https://youtu.be/mPRzan3i9QA

Para quem chegou aos 30, ou já beira os 40, ir ao cinema para assistir a nova versão de IT é reviver um terror de infância. Criado brilhantemente pelo mestre do gênero, Stephen King, Pennywise pode não ter alcançado a fama de Freddy ou Jason, mas, com certeza, é o palhaço que habitou nossas mentes por muitos e muitos anos, após o lançamento do telefilme em 1990. Isso, porque estou ignorando o livro e conversando diretamente com aqueles, que assim como eu, passavam longe dos bueiros enquanto criança. Quando divulgaram os primeiros teasers e deixaram claro que a famosa cena do barquinho estaria na nova versão, minha ansiedade apenas aumentou. Seria apenas um remake totalmente revitalizado? Confesso que não me importaria, mas “A coisa” de 2017 mostrou buscar vôos muito maiores.

Dirigido por Andy Muschietti (Mama), a nova versão nada na maré nostálgica que invadiu as produções audiovisuais nos últimos anos. Após o enorme sucesso de Stranger Things no Netflix e personagens clássicos sendo revividos na sétima arte, “IT”  nos convida a uma viagem de volta aos anos 80, misturando o terror com os filmes de aventura que marcaram a época. Se ainda resistissem as saudosas locadoras, a nova versão deste clássico estaria ali na prateleira…entre Goonies e Hellraiser, fazendo uma ponte precisa entre a ação e a tensão, com toques de humor, dignos de um clássico de Sessão da Tarde. E, entenda, isso não é uma depreciação. Isso é um enaltecimento a coragem do diretor de voar muito além do terror.

Aproveitando de temas, infelizmente, sempre atuais, o filme conta a história de um grupo de crianças perseguidas por preconceitos que variam em todos os tópicos possíveis. Seja pela cor, religião, gênero, aparência física, os garotos sofrem constante bullying e vivem enclausurados no medo de serem atingidos pelos malvados alunos de um colégio. Não bastasse o sofrimento de viver assim, a cidade onde habitam ainda apresenta o estranho caso do desaparecimento de crianças. Entre essas, está o pequeno irmão de Bill Denbrough(Jaeden Lieberher). Na busca por encontrá-lo, Bill consegue reunir um grupo de novos e velhos amigos formando então o “Clube dos Perdedores”. Garotos dispostos a dar um basta nos acontecimentos, custe o que custar. Bem…até ai teríamos apenas um filme de aventura oitentão, certo? E essa intenção fica clara ao usar o ator mirim Finn Wolfhard (de Stranger Things, que, diga-se de passagem, habita os anos 80 há muito mais tempo do que nós que vivemos a época) em um diálogo espetacular, onde menciona Molly Ringwald (a atriz que interpreta a garota do célebre Clube dos Cinco) fazendo uma comparação ao recrutamento de Beverly (Sophia Lillis) ao Clube dos Perdedores. Mas o problema todo e a dose de terror, está no responsável pelo desaparecimento das crianças. Um palhaço macabro, que habita os esgotos da cidade de Derry e se alimenta do medo criado em quem é raptado e devorado por ele.

“Pennywise, o palhaço dançarino”, trabalha o psicológico dos garotos, revelando seus medos mais internos em simulações de realidade, criando pavor e fazendo com que eles caiam em suas armadilhas. Mas, muito além dos medos infantis exibidos pelo palhaço, o diretor cria um universo que mostra as personagens em confronto com seu amadurecimento e seus medos reais do cotidiano. Seja com Bev encarando sua primeira menstruação e os abusos do pai, seja na marcação cerrada do rabino para que seu filho Stanley (Wyatt Oleff ) siga sua herança religiosa ou até mesmo no simples desafio de estar apaixonado na pré-adolescência.

Nessa mistura de gêneros e emoções, IT tem a intenção de ser grande, daqueles filmes que marcam a nossa história com o cinema. Não vejo como o despontamento tardio do personagem de Pennywise, mas vejo como um filme de terror “light” que pode ser “digerido” por várias idades e que não vai cair no esquecimento. Faz uma louvável homenagem ao original usando a clássica cena do barquinho(aqui já mencionada) e, até mesmo, a cabeça do palhaço de 1990 em uma outra cena. Mas supera o original, supera expectativas e vem com tudo para ser um recordista de bilheteria. Se eu fosse Stephen King, estaria bem feliz nesse momento. Como sou um mero espectador, já aguardo ansioso pela sequência.

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By Nimai

Apaixonado por Belo Horizonte, pai de duas meninas maravilhosa e marido da dona!

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